Os
carros me ofendem. Sim, é isso mesmo, prefiro as bicicletas magrelas e
românticas. Os carros chegam rosnando, entupindo o trânsito, assustando a
vovozinha, perseguindo a chapeuzinho vermelho. O estampido dos motores dispara
contra o bom senso, milhões deles, sem respeito ao horário da missa. Pareço
religioso, pois não sou. Enxerquei uma confluência na tecnologia justamente
após comprar um carro. Achei o gesto estúpido da minha parte. Ninguém mais tem
o direito de colocar um carro nas ruas. É perigoso ocorrer um estalo e de
repente todo o mundo ficar parado, dentro dos automóveis, aguardando, não
importa se o sinal abriu ou fechou, não é possível andar um centímetro. A
covardia da indústria esqueceu-se do bom senso.
Eu
não posso negar. Quando ando de bicicleta os carros me chateiam. Isso quando
não me jogam lama. Insultam-me com sua luz moderna, vasculhadora, procurando o
espaço no impossível. Vou pelo cantinho, pedindo licença, esperando respeito.
Mas não funciona assim. Numa grande capital, cada centímetro de asfalto já tem
dono.
Outro
dia um amigo que pedalava do meu lado lembrou-se do maluco que atropelou
dezenas de ciclistas em Porto Alegre, numa manifestação do grupo “Massa
Crítica”. Ele disse agir em legitima defesa. A verdade é que existe uma guerra
no trânsito das grandes cidades. Carros brigam com motos, motos brigam com
carro, carros atacam bicicletas. É um deus nos acuda!
Acho
que não estamos seguros. O asfalto já tem dono. Para não corrermos risco
precisamos fazer uma reza antes de chegar ao lugar onde verdadeiramente estamos
protegidos. Mas o caminho é perigoso. Não duvido, naturalmente sei o meu lugar:
devo ficar pedalando uma bicicleta ergométrica no amplo salão da academia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentario e valorize o blog.