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terça-feira, 25 de março de 2014

O VOTO NULO

Vamos todos juntos
Fazer do coração
Ao menos um apelo
Senão a solução
De contra-ataque
A uma política degenerada
Direção do país
Feita de forma errada...

Justificada pelo nosso aval.
É com nossa chancela
Que os políticos
Fazem seu carnaval.
É com nossa chancela
Que se repete a mazela
E nosso tesouro é minado.
Não deixemos isso acontecer...
Vamos abraçar forte a nossa bandeira
Votemos somente se for preciso
E se a opção verdadeira
Nos for oferecida com respeito.
Votar sem uma carta de escolhas
É como procurar lagosta no lago Paranoá.
Votar sempre no mesmo político
É como desejar
Ficar de castigo ajoelhado no milho
Ou repetir sempre o mesmo mico.
Não votemos então
Se não existe político
Que mereça um voto de coração.
Não votemos então.
Não votemos então.
Ou votemos então
Em alguém que não seja candidato
Como um elefante
Ou um macaco.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Registro n.º 02 - 14/03/2014

Hoje foi um dia difícil, tanto no trabalho público, onde trabalho pela manhã, quanto no escritório, onde sou advogado. Mas, o dia não foi fácil, certamente, pela ansiedade. É que amanhã vou para Minas Gerais visitar minha irmã. A Elza, que dos nove irmãos do seu Etelvino e da dona Rosa foi a única a ficar em nossa terra natal. Hoje é muito difícil voltarmos lá, mas Monte Azul mora em nossos corações, sem dúvida alguma.
Engraçado, sou de família simples, e minha única riqueza, não tenho dúvida, é a cultura. De tal forma, sou muito grato às oportunidades que surgiram a minha frente. De poder estudar e fazer a diferença. Todavia, voltando hoje, em meu velho carro, pensei, e agora talvez consiga fazer entenderem o porque do termo engraçado lá atrás. Sim, é engraçado, que  lutemos tanto para adquirir  conhecimento, arrumar uma profissão melhor, sempre pensando que vamos ter mais tranquilidade. Todavia, sofremos quando temos mais conhecimento, porque nos tornamos responsáveis por aqueles que não possuem o mesmo conhecimento. Precisamos ter apreço pelo sacerdócio do conhecimento. Não tenho dúvida de que o caminho de quem muito se prepara é um grande desafio.
Mas, amanhã, vou ver minha irmã, e quero ganhar dela um abraço gostoso e, quem sabe, um sanduiche na chapa.

quinta-feira, 13 de março de 2014

DIREITO?

Um direito qualquer homem tem.
Quero saber como acomoda os seus,
Dentro do bolso?
Na mente?
Dança com ele na pista lotada?
Um direito não recai
Sobre uma namorada,
Ainda menos na tutela de um filho....

Direito de verdade
Temos apenas a um punhado de milho.
Mas pense bem...
Direito de verdade é natural.
Mas nem à vida,
A fé, quem dera.
Deus cedeu a todos o santo graal
Mas a igreja escondeu.
O teu direito não é meu
E nem o meu é teu.
A liberdade, a intimidade, a sociedade
Tudo passa pela maldade
Das clausulas contratuais
Que tira o mais astuto
Dos menos boçais.

Assim é que é vida.wmv


POESIA DESCONCRETA

Fazer poesia
Não edifício
Preservar as matas
Arrancar da pele do mundo
O asfalto que te matas
De calor.

O HOMEM QUE FOLHEIA LIVROS

Quando escrevi meus poemas
Eu não estava são.
É só o doente
Quem tem vivo o coração.
E toda a poesia é uma canção
Se não for um câncer
Que faz prostrar o homem,
Que mata quem ignora...

Que a doença é a cura
E o próprio remédio.
Eu não sou poeta
Dos que trazem literatura
Para acrescentar.
Se meus versos alcançam algo
Com seus braços tísicos
É só para matar.
Quero esmagar com a força
Dos meus punhos
A ignorância alheia.
Quero apresentar ao mundo
Um homem que não sabe nada,
Mas, que pega um livro
E folheia.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Registro n.º 01 - 12/03/2014

Ouve um tempo que tinha verdadeiro fascínio pela morte, não a dos outros, a minha. Este mistério que ela tem, sua agressividade e, também, as surpresas que trás. Foi por isso que escrevi o poema "Quando eu morrer", naquela época eu ficava horas fazendo nebulização enquanto os garotos jogavam bola na rua. Escutava seus gritos, enquanto aquela fumaça de remédio entrava por minhas narinas. A tosse vinha "como o cavalo do comandante, em trote." Pisoteava meu peito e eu não tinha dúvida: um dia aquela tosse me mataria.

POLÍTICOS VÃO TOMAR...


Que me desculpem
Quem não escutou direito
Mas a frase foi feita para repetir....

Políticos vão tomar...
É num pomar de mangas
Com caroços chupados,
Sugados, leitos de hospital,
Crianças mortas, cestas básicas,
Dói.
Território eleitoral:
Por cada manga lhes compro um voto!
Chupa!
Vão vir novamente,
Dentes escovados e muitas sementes.
Não plantam nada
Nestes canteiros da capital.
Analfabetos políticos fazem passeatas
Para bandidos presos.
Não são presos políticos!
Não são...
São políticos presos
E sem razão.
Vão vir novamente,
Qualquer ilusão vai fazer da alusão
Guerra e paz,
Uma promessa em cartaz
Que os bons auspícios
Vão dizer,
Mesmo os mais comportados:
Políticos corruptos
Vão se fuder!

BREGUÊDO

MEUS PASSOS


 Só tenho cartas para entregar.
São missivas de amor
Para quem estiver desperto....

Não escolho sofisticação,
Qualquer um pode receber
A anunciação.
Por onde passo deixo rastros
Doloridos, tristes, mas são meus passos.
Olhos secos se deitam no meu caminhar,
A bolsa que carrego é cobiçada
Por aqueles que não querem me seguir.
Mas o mau olhado não me atinge,
Já lia a sorte na borra do café.
Preto, como o grafismo da minha mensagem.
São cartas de amor
De um ser humano a outro.
Quem percebe os meus passos
Anda na minha direção.
Sou tímido para abraços
Mas não tiro a atenção de um olhar.
Quem quiser pode entrar,
Minha alma é um lugar aberto
Onde pode se sentar
E ler poemas.
Eu tenho as paredes riscadas
No interior de mim.
Quem riscou foi quem se deu a oportunidade
De tentar me traduzir.

BREGUÊDO

ELE AMAVA OS CÃES


  (Gostaria de exaltar a obra de Tolsoi com este poema, escritor e poeta libertário russo. Além de sua fama como escritor, Tolstoi ficou famoso por tornar-se, na velhice, um pacifista, cujos textos e ideias contrastavam com as igrejas e governos, pregando uma vida simples e em proximidade à natureza.) - fonte Wikipédia

Era um cidadão comum...
Com uma bandeira
Que sempre carregava.
Esperava mudar o país
Para melhorar para o analfabeto
Que não pensava.
Mas engano grande lhe pesava
As odes da ilusão.
Mudar quem governava
Não era a solução.
O leque de oportunidades
Contraditava a bondade
E naqueles corações só existia
Corrupção.
Um dia sem saber
Colocou orgulhoso no poder
Toda a corja
Que se vestia da bandeira que ele carregava.
Não sabia que até Tolstoi
Condenava a escolha cega.
Nada mudou
Com as mudanças feitas.
Apenas aumentou a quantidade de cestas
E o vazio das oportunidades.
As grades não se abrem da cabeça,
Mas é preciso dizer
De votos que viraram cinzas nas mãos
De iludidos cidadãos.
Ele amava os cães...

BREGUÊDO



A ilha

)


O belíssimo poema "A ilha" é o poema de abertura do Livro O Jacaré Pensador,  de Sidiney Breguêdo. Neste poema, de extremo bom gosto, uma metáfora transforma o poeta em uma ilha, de onde todas as mulheres querem escapar. Assista, vale a pena!

TRÂNSITO BOM DE CADA DIA



Os carros me ofendem. Sim, é isso mesmo, prefiro as bicicletas magrelas e românticas. Os carros chegam rosnando, entupindo o trânsito, assustando a vovozinha, perseguindo a chapeuzinho vermelho. O estampido dos motores dispara contra o bom senso, milhões deles, sem respeito ao horário da missa. Pareço religioso, pois não sou. Enxerquei uma confluência na tecnologia justamente após comprar um carro. Achei o gesto estúpido da minha parte. Ninguém mais tem o direito de colocar um carro nas ruas. É perigoso ocorrer um estalo e de repente todo o mundo ficar parado, dentro dos automóveis, aguardando, não importa se o sinal abriu ou fechou, não é possível andar um centímetro. A covardia da indústria esqueceu-se do bom senso.

Eu não posso negar. Quando ando de bicicleta os carros me chateiam. Isso quando não me jogam lama. Insultam-me com sua luz moderna, vasculhadora, procurando o espaço no impossível. Vou pelo cantinho, pedindo licença, esperando respeito. Mas não funciona assim. Numa grande capital, cada centímetro de asfalto já tem dono.

Outro dia um amigo que pedalava do meu lado lembrou-se do maluco que atropelou dezenas de ciclistas em Porto Alegre, numa manifestação do grupo “Massa Crítica”. Ele disse agir em legitima defesa. A verdade é que existe uma guerra no trânsito das grandes cidades. Carros brigam com motos, motos brigam com carro, carros atacam bicicletas. É um deus nos acuda!

Acho que não estamos seguros. O asfalto já tem dono. Para não corrermos risco precisamos fazer uma reza antes de chegar ao lugar onde verdadeiramente estamos protegidos. Mas o caminho é perigoso. Não duvido, naturalmente sei o meu lugar: devo ficar pedalando uma bicicleta ergométrica no amplo salão da academia.

beijomao

)
O poema "Beijo na mão", escrito por Sidiney Breguêdo, é talvez um dos poemas mais singelos já feitos. Nele, um encontro e uma despedida: o espaço infinito entre dois mundos. O poeta, atento ao instante, que é tão relevante na poesia, cravou esta pérola e deu a humanidade uma obra preciosa. Ouçam!

segunda-feira, 10 de março de 2014

O voto do homem bruto

Vou falar
Mas só para dar
O recado
Porque homem bruto
Não faz da pena
O seu agrado
E muito menos
Com ela muda o foco
Da nação
Somente seu voto assina
Cortando das veias
O coração.

Mais uma vez eles se achegam

Hoje, eu senti o peso
Do mar que não abraça.
Como o mendigo da praça,
Vi os que amo passarem,
Como se fossem borboletas
Sem importância no arem.


Um rei ou um profano sultão
Ignorava a beleza do mundo,
O alicerce varado no peito vagabundo,
Que astia em viga carneada a verdade,
Para dar a todos a dignidade plácida
Para que o povo não veja o rosto covarde.


De pluma e açoite e ferro e vento
Vejo a agonia atônita do desalento,
Quando, hoje me senti totalmente despido.
Não quero mais na praça o tolo homem!
A mentira perfila minha carne com a fome,
Estripa as entranhas nuas no estampido.


Mata o menino  mãe efêmera, antes do homem
Acovardado lhe tirar a vida pela fome!
Nenhum voto de confiança
Merece o tolo que se empanturra
De opinião alheia e na noite urra
Como a besta fera que se chateia.


Ainda vai passar em todos os canais
Um filme que vai mudar o mundo
Pelos próximos quatro anos banais
Onde quem não ficar cego, virará cético
Retrato pequeno partido no olhar profundo
Duma criança riscando beijos em seu pórtico.