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domingo, 27 de abril de 2014

A VIDA

É a vida a dona
Do tudo
Que trafega na mão
Da realidade
A responsável pela novela
Que desprende dos dias
De maldade
Quando a sorte despreza
Quem anda na contramão.
É a vida que leva
Ao leito
O homem doente
E faz nascer em campo
Lavrado outra semente.
E põe a mesa
Com café e pão.
Quem impulsiona o mestre
E mostra ao discípulo
O malabarismo do circo
Nos confins de andaimes
No alto do céu.
É a vida que dá
E tira o troféu.
Que arrasta o mendigo
Para a sarjeta
E dela tira
Dando terno caro e maleta
Para as altas rodas
De wall street.
É a vida a dona
Da morte,
Da própria vida
E da sorte
Que no fim dá paz
E alento
Empalando sem dor
E cercando na morte
Com pássaros negros,
Corvos e gralhas deitados
A banquetear sem amor.
É a vida que faz nascer
O choro
Quem alteia a voz no laboro
Que surpreende na passagem
Quem do outro lado percebe
Que é a vida
Do outro lado também
Mandando na morte.
Só a vida tem
Aqui e no além
E além dos céus
E dos infernos
Onde os homens entram no
Inverno e pegam praia
No verão.
Onde os homens vão de terno
Às festas
E veem diabo e Deus
Lado a lado
Cada um com seu cajado
E nada de competição.
É a vida mesmo
Do outro lado
Onde as nuvens do céu
Faz estofado
De conforto e solidão.
Cabe ao poeta morto
Saber que o desprezo da lida
Também é culpa da vida
Que reserva aos altos píncaros
O Altear dos seus poemas
E na terra fica
A poesia
Tratada em trama rica
De outro lugar tamanha divulgação.
Os poemas não explodem sozinhos
Nem nascer eles nascem
Do poeta sem coração.
Os poemas são dados
Como bilhete ou recado
De uma Deusa em devoção.
Mas é a vida,
Só a vida!
Quem põe no lugar
Cada letra alinhada
Para construir o mosaico
Que sobe como uma escada
Na torre imaginária
Para o povo amar.



BREGUÊDO 2014